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Bacharelando em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, estagiário na Assessoria de Comunicação de uma instituição em Campina Grande-PB e compositor/vocalista/baixista de uma banda de rock 'n' roll da cidade.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

I

Aquela dor era realmente forte e lhe deixava impaciente. Mesmo assim, permanecia a anos luz dali, do seu quarto, onde ecoava alta a música da festa que acontecia nos fundos da casa. E delirava, permanecia longe de tudo, se importando apenas com a pressão que seu corpo provocava de dentro para fora, como se sua alma estivesse cavando no seu peito uma brecha para, enfim, libertar-se. Ele não seria tão egoísta assim a ponto de reclamar (apenas uma vez mais) do que estava perturbando sua paz. Preferiu manter as coisas como estavam. Afinal –pensava - justamente através da dor ele havia alcançado suas melhores idéias, como se a dor estimulasse divagações sobre si, o mundo, tudo.

Também pareciam não se importar com a existência dele, deixando-o quieto no seu lugar. Não que ele se queixasse disso, pois às vezes sente que sua presença ou a forma como dispara seus conceitos incomoda à maioria. Era individual! Em muitos momentos, adoraria desaparecer, ir aonde quisesse sem ser percebido e assim não ser cobrado quando da consciência geral de que faltava algo da sua parte. Mas não já estou aqui? Pensava. O que mais querem de mim? Idiotas! – Talvez não se contentassem somente com sua presença física onde quer que estivesse. Era como se o simples fato de estar num ambiente, instigasse a todos (ou quase todos) a lhe questionar, em busca de sua opinião (que quase nunca realmente interessava) ou apenas à procura de um meio de lhe subestimar, discordar das suas colocações. E mesmo nestes casos, pareciam não entendê-lo, passando somente a fazer de conta que o ouviam – seus rostos não escondiam o desdém.

Queria entender seus sonhos e mostrava-se decepcionado pelo fracasso de não conseguir compreender o que a sua mente dizia enquanto se encontrava inconsciente. Era como se, no momento em que absorvesse aqueles flashes aparentemente desconexos, conseguiria alcançar muitas das respostas que tanto buscava, mas livros ou aulas não ajudavam.

Satisfzia-se (sim!) em conversar com quem lhe compreendia (ou os que ao menos tentavam). Assim, só assim, ele se mostrava verdadeiro em sua essência, indo mais além em suas idéias e expressando tudo o que lhe corria à mente. Talvez por isso tinha tão poucos amigos. Não suportava a maioria das pessoas, suas concepções prontinhas, plantadas, como criações de laboratório, produzidas na medida exata e completamente perfeitas, indestrutíveis. Ele conversava sozinho quando da ausência de todos. Louco? Você também faz isso às vezes. Admita! Que mal tem quem fala, gesticula e até ri sozinho? Pode ser isto uma forma de não sentir-se tão isolado, sozinho. Já alcançou conclusões extraordinárias desta forma – pensa consigo, sem remorso algum.

De repente, já conseguia esquecer aquela ferida aberta nas suas entranhas e até sentia-se aliviado. Entretanto, uma bomba explodiu do outro lado da parede. O estrondo pôde ser percebido através dos headfones mesmo com o som alto. A concentração foi totalmente quebrada. Desceu do tapete voador e se deu conta de que a dor ainda permanecia – companheira inseparável. As tentativas de retornar ao universo paralelo foram todas inúteis. Além disso, a bateria do mp4 se esvaiu – já estava escuro lá fora do quarto. Lá dentro, uma bomba? Não havia bomba alguma. Era hora do jantar.

2 comentários:

  1. E quem nunca precisou ficar só para poder se encontrar... Sonhos sempre são uma fuga, não importa se eles venham acompanhados de um sono profundo ou de uma grande viajem com olhos arregalados. parabéns thiago! [rafaela gomes]

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