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Bacharelando em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, estagiário na Assessoria de Comunicação de uma instituição em Campina Grande-PB e compositor/vocalista/baixista de uma banda de rock 'n' roll da cidade.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O prêmio

O salão estava lotado, haviam flores muito bem colocadas em vários pilares de metal espalhados por todo o lugar. O ambiente tinha um ar de limpeza e a luz não era tão forte nem branda demais. Todos estavam esbanjando felicidade através de seus ternos, vestidos longos, gravatas e cabelos muito bem montados. Os sorrisos pareciam tão forçados quanto os aplausos, que soavam obrigatórios a cada prêmio entregue e discurso melodramático daqueles que eram convidados ao palco para receber um trofeuzinho – na verdade, não se pode chamar aquilo exatamente de “troféu”, era só uma plaquinha de vidro transparente com alguns dizeres e congratulações. A noite era histórica para a maioria que lá estava.

A cerimônia se prolongava por mais de duas horas e inclusive as famílias de muitos que já haviam recebido a premiação tinham ido embora. Estava tarde, afinal. A espera era tão ingrata quanto os caminhos que ele percorrera até chegar ali – e quem disse que ele estava adorando estar naquele lugar, àquela hora da noite? Não suportava mais aquele champagne ou docinhos, salgadinhos ou qualquer outra coisa que fosse servida pelos garçons e que terminasse em “inho”.

Recebera o traje de gala que vestia emprestado, uma peça de um tio, outra de um primo, etc. Somente a cueca era sua, mas ainda há algumas dúvidas sobre isso. Enfim, a calça era de uma cor, o terno de outra e a gravata não combinava com absolutamente nada além das toalhas sobrepostas às mesas. Um sujeito, com toda sinceridade, desajeitado - e tinha a calça maior que as pernas e impaciência insólita. Estava ali, ao lado da mesa de uma senhora gorda com um colar extravagante que chorava enquanto seu filho (acreditava-se ser o seu filho) discursava no palco palavras ensaiadas escritas em um papel azul, citando clichês e jargões a todo instante, tudo tão certinho quanto seu penteado, que lhe fora garantido por uma generosa camada de gel sem álcool.

Finalmente chegou a sua vez! Seu nome foram mencionado pelo mestre de cerimônia, um homem de pele muito clara e firmeza na fala, muito seguro de si, que pronunciou errado o sobrenome do premiado, soando estanho, quase como um palavrão, o que provocou algumas risadinhas na platéia (aquela hora, já bastante inebriada com muito champagne e cheia de bolinhos de queijo e camarão). Em passos rápidos o sujeito se encaminhou ao palco, postando-se atrás da tribuna de madeira. Seu semblante era rígido e não expressava emoção. Lá estava ele, de frente para alguns dos que lhe negaram oportunidades e resistiram em não reconhecer o seu esforço por muito tempo; também havia muitos desconhecidos. E começou o seu discurso, sem hesitar:

- É uma imensa satisfação estar aqui esta noite. Por muitos anos eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para conseguir algum destaque ou consideração. Pois bem – respirou fundo, reparando em todo o salão, resmungando baixinho por aquela luz contra os seus olhos ser forte demais. As palavras lhe saíam sem muita expressão. – Não dá para chegar aqui e receber este prêmio ao lado de tantos outros grandes homens sem exprimir minha gratidão a todos os que me proporcionaram o sucesso e de alguma forma me conduziram até aqui. Portanto, quero agradecer a todos aqueles que me consideraram o pior problema de suas vidas, a maior dor de cabeça dos seus dias e por isso me odiaram, a todos os que fecharam suas portas e me negaram abrigo quando precisei. Quero agradecer aos que somente me criticaram a fim de me derrubar e não me ajudaram em absolutamente nada; também aos que mentiram, prometendo me dar auxílio e fizeram nada mais que coisa alguma. Agradeço aos que pisaram na minha cabeça quando estendi a mão e aos que cuspiram no meu rosto quando estive ao chão. Desejo agradecer aos que me classificaram como inútil, idiota, verme, doido e cão, e àqueles que me falaram mal quando lhes dava as coisas. Não posso esquecer também aqueles que nunca acreditaram nas minhas idéias, nos meus projetos e os que a todo preço me fizeram desistir, tentaram me destruir, me pisar, me derrubar. Agradeço a todos os que sequer buscaram dar conta da minha existência ou da minha dor. Muito obrigado! Obrigado aos que duvidaram do meu sucesso e aos que sempre tiveram certeza do meu fracasso. Muito obrigado a todos vocês, todos os que me consideraram nada mais que nada.

Todos simplesmente observavam, sem comentar nada entre si. O mestre de cerimônia aparentando estar desorientado com aquilo.

Então ele parou por um momento, suspirou, olhou para o prêmio em sua mão, levantou-o à vista de todos e, com a voz ainda estável, sem sentimento, vazia, áspera, concluiu:

- Sem isso, definitivamente eu não teria chegado aqui e me tornado exatamente igual a vocês... Obrigado!

E desceu as escadas do palco, se encaminhou pela sua mesa, tomou um último gole de champagne ainda de pé e seguiu tranquilamente até o fundo do lugar, acompanhado pelos olhares de todos. Abriu a porta e saiu, pela porta dos fundos.

Silêncio.

Um comentário:

  1. Muito bom menino!! Gostei muito desse texto desde a hora em que vc me mostrou!!

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