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Bacharelando em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, estagiário na Assessoria de Comunicação de uma instituição em Campina Grande-PB e compositor/vocalista/baixista de uma banda de rock 'n' roll da cidade.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

As coisas e o tempo

Impressionante como tudo hoje em dia é cada vez mais descartável. Parece até que as coisas já são feitas projetadas para em breve irem pro lixo! Não, eu não estou surtando. E também não é exagero ou desvario deste pobre escritor de 5ª. É só observar o mundo ao seu redor e você também poderá chegar a esta conclusão (mesmo que discorde da minha colocação), passando a vê-lo de outra forma.

Essa síndrome da pós-modernidade, contemporânea, ultra pragmática crônica atual faz com que músicas, objetos diversos, programas de TV, desenhos animados e até sentimentos sejam jogados fora, descartados com uma facilidade e rapidez incontestavelmente assustadoras. Não é à toa que cada vez mais filósofos, antropólogos, psicólogos, enfim, pesquisadores de várias áreas se preocupam em analisar este fenômeno. Os séculos XX e XXI parecem acontecer em um tempo mais curto que todos os períodos anteriores da nossa história. A sensação de que os dias passam mais rapidamente está sempre presente na maioria das pessoas e parece mesmo que não mais estamos conseguindo nos dar conta da vida que passa na frente dos nossos olhos, por permanecermos eternamente ocupados. O tempo está mesmo correndo mais, ou somos nós correndo além da conta?

Vamos a exemplos simples, próximos aos nossos olhos e tudo ficará mais claro. Por favor, me belisque se eu for longe demais. Bem, você já percebeu que à tardinha, antes das novelas e telejornais vespertinos, sempre é transmitido em um ou outro canal algum desenho mais antigo que você? Não que eu esteja lhe chamando de velho, hein! Enfim, eu confesso que, quando posso, assisto ao Pica-Pau. Ele é a prova do que estou tentando explicar. Veja bem: o desenho deve ter uns trinta anos de existência, seu pai pode ter assistido ao episódio de hoje, mas Pica-Pau está lá, com a imagem apagadinha, surrada, mas firme e forte!

Peguemos então os exemplos de Digimon ou Pokemon ou Dragon Ball, etc. São desenhos animados mais recentes que vez por outra alcançam um sucesso explosivo, mas geralmente isso dura apenas alguns anos (eventualmente só poucos meses) e nunca mais se vê nada sobre estes. Simplesmente somem do mapa! Daqui a 15 anos ou mais sequer se saberá que eles já existiram um dia. Mas Pica-Pau continua por aí, assim com Popeye, Scooby- Doo, Os Flinstones...

Não sou um estudioso dos fatos que estou citando. Por isso apenas estou colocando alguns exemplos práticos, para que possamos refletir sobre isto. Os desenhos mais antigos permanecem por tanto tempo, mesmo saindo do ar e retornando depois, mas as produções recentes não conseguem se sustentar, sequer alcançando a própria puberdade (se é que você me entende). Inclusive, tenta-se desenvolver novas versões, atualizadas, com novos episódios e gráficos aperfeiçoados dos Pica-Pau ou Scooby-Doo antigos, mas parece que as inovações não “colam” e saem do ar. Claro, devem existir exceções entre os casos. Sem generalizar, por favor. Mas as versões clássicas, primitivas dos desenhos estão lá, não estão?

E as músicas? Todo domingo meu pai escuta o “Especial Roberto Carlos, Um Tributo ao Rei”, no rádio. Parece-me muitas das vezes serem as mesmas músicas toda semana – o que às vezes até me irrita – mas o programa está no ar há anos: sinal de audiência. São senhoras canções que estão aí tocando, após tantos anos do seu lançamento. Agora pegue Calypso, Aviões do Forró, Nx Zero, Amy Winehouse, KLB, Rihanna, entre outros “artistas” atuais e veja se daqui a anos (não precisa ser muitos não) as suas músicas estarão tão atuais quanto às dos Beatles, Luís Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Titãs, Agnaldo Timóteo, Reginaldo Rossi, Elvis Presley, Renato Russo ou o próprio Roberto Carlos! Estou sendo ranzinza mesmo, em não apresentar causas para isto, mas é a verdade! A coisa está tão feia ao ponto de, quando uma banda qualquer alcança um sucesso considerável, tudo que é grupo por aí imita o estilo daquela que conseguiu destaque. Um caso foi o de Harmonia do Samba, da Bahia, que originou a praga, digo... a onda de grupos de Pagoxé com o ritmo (e pior), a voz completamente idêntica à de Xandy. É também o caso mais recente de Aviões do Forró (que de Forró só mesmo o nome) e as milhares de bandas imitadoras desta, que só nos permitem distinguir quem é quem porque, entre as músicas, os vocalistas vão gritando o nome do grupo, senão... Inspirar-se, absorver características é uma coisa, mas imitar descaradamente?! E nem quero entrar no mérito dos “conteúdos” das canções... fica para outro dia.

Você ainda não está convencido da situação? Quer mais exemplos?

Aquele seu guarda-roupa de “compensado” que comprara há menos de dois anos e, quando foi afastá-lo por conta de uma faxina no quarto, ele se partiu igualzinho a uma bolacha “Cremicraqui”; ou o seu celular, que depois de uma queda, não realiza ligações ou recebe e o visor está apagado – pelo menos os antigos “tijolão” agüentavam o tranco, ainda tenho um ali guardado há nove anos que funcionaria se eu quisesse usá-lo. Não esqueça da TV que você deu à sua esposa e que já quebrou (“deu o prego”) antes mesmo daquela, dada a ela pela sua sogra no aniversário de 15 anos, que não fosse a fome incontrolável dos cupins, estaria intacta, na sala. Bem, eu poderia falar da substituição do disco de Vinil pelo CD, que depois de um tempo de uso, fica cheio de buraquinhos que parecem morfo – e do próprio CD pelos arquivos de músicas, que vagam pela internet e são adquiridos por download, abstratos e fáceis de serem perdidos.

As coisas parecem estar sendo feitas com tempo resumido de uso e prazo de vencimento rigoroso. “Obsolescência programada”, segundo Humberto Gessinger dos Engenheiros do Hawaii.

Ah! Esqueci de citar os relacionamentos, que se resumem hoje ao “ficar”, “estar com”, em vez de namorar, casar ou o clássico “felizes para sempre”, etc. Namoro agora só pelo telefone, pela internet, Orkut, Msn. Tem também aquele cara que resolveu publicar alguns livros seus em rolos de papel higiênico (!), seguindo a idéia de uns malucos europeus, que imprimiram obras clássicas no famoso “papel de bunda”. Isto é que é descartabilidade! Não quero nem pensar em como e onde seria o lançamento de uma obra (da) deste porte! Já pensou?!

Mas acho que você já está cansado desta delonga. Chega de exemplos! Eu não ensaiei nenhuma teoria aqui para tentar explicar este fenômeno (ou como queiram chamar isto). Apenas busquei apresentar os fatos, já que tantos intelectuais incansáveis buscam entender tudo isto. Quem sou eu? Além do mais, este mesmo texto que você acabou de ler daqui a poucos instantes poderá estar embalando alguns peixes na feira, aliviando o frio de mendigos iletrados durante a madrugada ou mesmo limpando algumas bundas por aí...

Um comentário:

  1. Eu voto na teoria no capitalismo. Meu professor de história diz que até a variabilidade da cor de um carro influencia na vontade da compra. Realmente concordo com cada palavra que você diz. O clássico é forte e é meu estilo preferido.

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