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Bacharelando em Comunicação Social pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, estagiário na Assessoria de Comunicação de uma instituição em Campina Grande-PB e compositor/vocalista/baixista de uma banda de rock 'n' roll da cidade.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Domingo é dia de TV

“Gugu vai transformar a vida de morador de rua”

Esta é a frase em destaque na tela enquanto o bondoso cordeiro “entrevista” o pobre do mendigo, e do seu rosto escorrem muitas lágrimas. O fundo musical é uma canção destas que buscam tocar o coração de quem escuta, tentando arrancar alguma emoção do telespectador ou algo parecido. Todo mundo comovido! Chora o mendigo, a esposa dele, o próprio entrevistador, quem tá assistindo, quem só estava passando pela sala, etc.

“Ele vai mudar a vida do pobre” – é o que ouço quando passo e paro para ver (não esquento, sou vacinado). A situação é triste: o cara mora embaixo de um viaduto com sua família e uma dezena de pessoas ao redor, junto aos ratos, trapos e lixo. É a cruel realidade de boa parte do Brasil, mas que muitos afirmam não ver – talvez por estar tão abaixo dos olhos de todos, escondidos sob a ponte. Comovente ver as crianças desmanteladas e a mãe afirmando que para comer tem de pedir (e ainda ouvir “piadinhas” e a brutalidade alheia). Tudo é muito sujo, menos o herói-entrevistador, claro, destacando-se com seu terno novo e cabelo tratado a laquê.

Tudo muito tocante, admito. A dona de casa telespectadora atenta deixa que lágrimas caiam de seus olhos e lamentações e pena ecoem pelo ambiente. “Tadinho... tão sujo”, suspira. De repente, todo o clima é interrompido por palmas que vêm da porta clamando atenção junto a um “Dona Mariiaa!! Ô de caasa!!”.

A mulher levanta do sofá carrancuda, como se levado uma pedrada. Quem ousa lhe interromper neste momento? Logo agora! Bota a cabeça na janela que dá para o portão:

- Que é, menino?!
- Boa noite, madame. A senhora teria um pão para eu jantar? To com fome! Qualqué coisa serve.
- Tsc! Tem nada não, viu! Passe outro dia.

E volta para o sofá, pior que quando levantou, resmungando o se sempre: “Não sei o que tem essa casa, que o povo adora vir pedir... ninguém tem sossego. Só vejo baterem aqui pra pedir. Saco!”.

- Quem era, mamãe?
- Ninguém!

Era uma criança de rua, suja, magra e descalça. Queria comida.

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